terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Para aqueles com medo da solidão


Para aqueles com medo da solidão.

Prescrição:

Olhar para o lado e buscar o que houver de vida o mais próximo de seus olhos.
Se não houver, olhar para os lados e buscar qualquer coisa que lhe faça sorrir.
Se não houver, busque em algum lugar próximo um espelho e se mire nele com profundidade.
Se não houver, busque parar e olhar para dentro de sim com bastante cautela.
Se não houver, vá até o lugar mais próximo com pessoas circulando para todos os lados, e olhe para todos os lados.
Se não houver, pare, sente, descanse e reinicie.
E se ainda assim não houver, converse com seu pé.
Se o pé não estiver lhe agradando recorra aos joelhos, se este não tiver bom papo recorra as suas mãos, se elas não forem simpáticas olhe para seu umbigo, acredite, grandíssima parte de sua solidão está diretamente ligada a sua falta de comunicação com seu umbigo.

"um.bi.go - sm (lat umbilicu) 1 Anat Cicatriz, na região central do ventre, resultante da queda do cordão umbilical; apresenta-se, normalmente, como depressão arredondada, com pequenas pregas entrantes; às vezes, entretanto, forma uma saliência por processo hernioso. 2 Bot Depressão ou protuberância que se forma na laranja-da-baía, na parte inferior, semelhante à cicatriz umbilical; é causada por uma outra laranjinha embutida na primeira. 3 Qualquer depressão ou saliência de aspecto umbilical. 4 Ponto central; ponto de convergência. Var pop: embigo. U.-branco: espécie de cogumelo comestível. U.-de-boi: a) espécie de chicote ou rebenque; b) bengala revestida de couro. U.-de-freira: espécie de biscoito doce. U.-de-vênus, Bot: erva suculenta européia da família das Crassuláceas (Cotyledon umbilicus), que tem folhas redondas, peltadas, com uma depressão central; também chamada coucelo. Encolher o umbigo, gír: recuar, voltar atrás." (Dicionário Aurélio)

Delicadamente temos duas formas simples de comunicação com seu umbigo, quais sejam:
1) Espelho, olhar, mirar, respirar, forçar e deixar até aonde vai dar.
2) Sozinho, deitado, travesseiros sobre sua cabeça, olhar fixo e definido e deixar até aonde vai dar.

Necessário:
Seriedade e controle.

Solidão chama-se em nossos estudos o ato de estar consciente de sua própria solidão. Em palavras amenas, é estar sozinho consigo mesmo e ainda assim olhar ao lado e perceber que nada há em sua vida que lhe desperte interesse, afinal, a sua solidão não diz respeito a ninguém a não ser a você mesmo. Em palavras diretas, levantar o rabo da cadeira e fazer por você, o que só você pode fazer.

Se isso tudo lhe parece estranho e se nada disso lhe soar bem ao olhar, leia em voz alta, se ainda assim não lhe soar bem aos ouvidos, parabéns, você está em estágio avançado de solidão em grau extremo de isolamento.

Por precaução apaixone-se, este é o medicamento recomendado em casos extremos, apaixone-se pelo ser mais próximo que houver ao seu lado, como seu quadro é de grave isolamento, este ser deverá ser você mesmo. Portanto, bem vindo ao reino do umbigo, ele está com você, você com ele, e faça bom proveito.

OBS: Para pacientes que responderam positivamente ao tratamento é recomendado abrir as portas e deixar que a paixão tome conta de um real umbigo próximo que lhe interesse, qual seja, um parceiro(a) que lhe aprouver.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Sobre o medo e seus segredos


Foto: Vê Domingos

Estava ela ajoelhada e olhou para o mar, além de conchas ela podia ver pequeninas pedras que corriam entre as conchas e juntavam-se ao mar, para novamente brincar. Pensando bem, ela estava no melhor lugar do mundo, ao que se possa imaginar nada estava além daquilo que seus olhos alcançavam. Se havia medo, era do desejo. Se havia medo, era do novo. Se havia medo, ela não morreria. Por isso o medo era o consolo, o consolo de uma vida inteira. Ela sabia que mesmo a vida inteira teria medo, mas ela não sabia que de medo a vida vivia pairando. No desalento, no desconsolo, no descortinar. Ela olhou para frente e o que podia ver eram as aves, as mais belas que seus olhos viram, não porque naquele dia estava acordada, mas porque naquele dia havia se acordado nela um desejo secreto de rever a vida, sem MEDO. O medo sabia se alojar no lugar mais recôndito daquele ser, e ela sabia que nada daquele medo passaria antes de o medo saber que ela sabia de sua existência. Ela travou conversa, de forma singela, para que o medo não se assutasse e se escondesse longe. Ele não se escondeu, para grande espanto e surpresa, ele não se escondeu, e foi além disso, ele dividiu com aquele ser, por hora escondido do medo, que o medo nada mais é do que a incerteza dos desejos. Ela olhou para suas mãos, olhou para o mar enorme e silencioso,olhou para as pequenas pedrinhas e viu que o medo das pedras estava em não poder participar do mar, por isso cada pedra corria ao encontro do mar para com ele poder brincar. No acalento daquelas palavras ela percebeu que daquele dia, e para todos os dias de sua vida, ela cuidaria de seus desejos como se fossem pequenas pedras querendo brincar com o mar.

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Segredinho Secretinho: Parte II


Foto da Paula: João (Osmar), Florbela (Caroline) e Natália (Natália)

Conversar com criança é entender uma parte do mundo II:

Ai vai uma pérola que somente CRIANÇA e PALHAÇO podem entender, estávamos eu e o Osmar, na Marejada em uma intervenção, quando fomos seguidos por uma linda garota de olhos brilhantes, e a conversa?

De louco? De palhaços? De crianças? Ahhhhh, não sei, mas foi assim:

Florbela: "- Ah eu sou a Natália, olha João eu sou a Natália."

Natália: "-Não, EU sou Natália, VOCÊ é Florbela."

Florbela: "-Então, o que eu disse? Eu sou Natália, você é Florbela. Ah, que lindo, você é Florbela, gostei do seu nome, bonito ele."

Natália: "-Tá, tá bom, eu sou a Florbela então."

Florbela: "-Oh Florbela, eu tenho que ir embora tá, me liga viu, gostei de você, vou te esperar tá."

Natália: "-Eu não vou te ligar não."

Florbela: "-Não? Porque não."

Natália: "-Eu te mando mensagem é mais fácil."

Florbela: "-Ah tá, mas como é seu nome mesmo?

Natália: "-Eu já disse é Florbela."

Uma piscadinha bem de leve e um mundo enorme de segredos entre nós.

Adoro criança e adoro palhaço também!




segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Segredinho secretinho


Carinhas na foto: Caroline, Sharla e Johni

Conversar com criança é entender uma parte do mundo:

- "Carol, olha ali do lado."

- "Que tem ali?"

- "Sim, você não tá vendo Carol?"

- "Não vi, juro, o que era?"

- "Não era, é ainda, dois passarinhos se beijando lá no céu, porque você está sorrindo depois de duas lágrimas de tristreza."

- "Triste? Eu? Hoje?"

- "É. Tu não sabe, mais eu sei, é nosso segredinho tá?"

Então tá, se é, é...

(Palavras sempre doces da Sharla, uma linda fadinha da pá virada, que me deixa docinha docinha só no olhar).

quarta-feira, 1 de outubro de 2008

PARCERIA


Uns poucos no mundo sabem como é.
Não estou somente falando de teatro, mas mais que isso, da parceria por vezes estabelecida no teatro, ou em outras muitas áreas, me apego a minha área para expressar meu agradecimento: à parceria.
Ela não é divina, mas é quase como se fosse algo que disse que se não fosse poderia ter sido, mas enfim se foi quem sabe quem disse o que era...
Já diria Mário Quintana:

"Se as coisas são inatingíveis... ora!
Não é motivo para não querê-las...
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!"

Parceria nos dias que vivemos hoje é quase que um lugar incomum, inexistente, inascessível.
Mentira, não é não.
Prova disso é que temos aqui duas traças, na próxima semana, com mais um caminho, novo e fresquinho para descobrir, sem medo, porque temos esta tal desta parceria.

Não vou agradecer de qualquer jeito não, vou agradecer conforme o mundo quer de nós, ou das traças:

Todos estes que aí estão
Atravancando o NOSSO caminho,
Eles passarão.
NÓS passarinhoS!

Tomara que Mário Quintana ache a mesma graça que eu a brincar com seus versos, reversos, ao inverso, do verso... Ah, é quase uma "parceria" de palavras. Não?!


quarta-feira, 24 de setembro de 2008

A paz na solidão!

É o Que Me Interessa

Daqui desse momento
Do meu olhar pra fora
O mundo é só miragem
A sombra do futuro
A sobra do passado
Assombram a paisagem
Quem vai virar o jogo e transformar a perda
Em nossa recompensa
Quando eu olhar pro lado
Eu quero estar cercado só de quem me interessa

Às vezes é um instante
A tarde faz silêncio
O vento sopra a meu favor
Às vezes eu pressinto e é como uma saudade
De um tempo que ainda não passou
Por trás do seu sossego, atraso o meu relógio
Acalmo a minha pressa
Me dá sua palavra
Sussurre em meu ouvido
Só o que me interessa

A lógica do vento
O caos do pensamento
A paz na solidão
A órbita do tempo
A pausa do retrato
A voz da intuição
A curva do universo
A fórmula do acaso
O alcance da promessa
O salto do desejo
O agora e o infinito
Só o que me interessa

Lenine

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Uma coisa leva a outra.

Uma coisa leva a outra... Ah leva sim. Você como eu acredita que não, ou ainda precisa ver para crer, ou outros muitos dos ditados populares que falam mais ao "acaso" do que ao "caso" propriamente dito. Pois acredite, uma coisa leva a outra...

O caso começou como bala de goma, sabe aquele dia com cara de bala de goma? Docinho, docinho...

Você acorda, olha o céu, olha o que se passa ao redor, sai de casa, aproveita e vai conhecer algo novo que está a lhe esperar, ai é que está, se este dia não tivesse existido, tudo poderia ter sido diferente!

- Que diferença faz agora?

É o que me ocorre perguntar.

A diferença está na bala de goma que me persegue ao acordar, sim porque naquele dia eu descobri que bala de goma não é somente bala de goma, mas é doce, e deixa na boca o gosto que de doce passa a ser amargo e de amargo passa a ser quase sarcástico, o fato enfim é que doce ou não, da boca não sai, nem o gosto, nem o sabor, nem o paladar, indiferente da forma a que se tratar, FICOU!

Então neste caso o mais correto é tomar a medida mais drástica possível: escovar os dentes. E fiz e refiz e por vezes, horas, semanas, por ocasiões o gosto passa, e retorna, como gosto de chiclete quando a gente cresce e volta a saborear de vez em quando, quando dá na cabeça de mastigar.

- De que caso falo?

Oras, simples o fato...

Falo do que na vida passa e quer ficar.

- Não conhece nada assim?

Sorte sua, hoje não é seu dia bala de goma, num dia com gosto de bala de goma, você vai lembrar, de mim, da bala, e do fato, encerrado ou não, o fato!

Não estou doce, também pudera, há dias que a bala, mesmo na boca mais quente, custa a desmanchar.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Das muitas formas de amar



Amor mesmo...
Amor inteiro...
O único!

domingo, 7 de setembro de 2008

Flores... sem plástico!



Dia de flores...

Como é bom acordar e ver o céu e ir além dele.

O céu contém mistérios, todos e tantos que não poderíamos de forma alguma acreditar que podemos entender cada novidade que se passa no céu.

Em dias de sol, como o de hoje, tenho sempre uma boa sensação de novidades no céu.

Porque no céu?

Sei lá, mas é o que sinto. Imagina a festa que não estão fazendo lá encima para que aqui embaixo possamos perceber por este lindo sol que nos aquece...

O céu e sol trazem também transformações, muitas e tantas, boas e doces.

Se um dia acordei criança, hoje acordei NOVA!

Para entender a novidade de tudo e de todos sai de um lugar comum para um lugar incomum, o lugar de olhar o que se passa ao redor de cada um de nós. É um lugar difícil inicialmente, perceber no outro o que não queremos para nós, perceber no outro o que comunga a nós, perceber no outro um lugar de fazer diferente, de entender porque somos como somos e porque nos construímos simplesmente humanos.

Ser humano, seres humanos, humanos, seres, complicação inútil esta, não?

É inútil ser humano e ser humano simplesmente por ser. O ser humano dificulta e na dificuldade é que me perdi do lugar que queria chegar. Agora me descomplico, mas o ser humano descomplicado descomplica o complicado?

NÃO!

Se assim fosse não seria humano, não sei, acho que não nasci pra ser humana, nasci pra ser humana de ser. Na descomplicação da vida me descobri no liquidificador da existência.

De volta em volta, volto a ser o que sempre fui e seremos: humanos.

sexta-feira, 29 de agosto de 2008

A cor dos olhos da criança...


Nossa!

Como a vida é engraçada, há coisas que nos ocorrem que não parecem ser de verdade, uma sucessão de acontecimentos que não esperamos, não cogitamos, não sabemos, não vemos, não percebemos, não nada.

Esta semana um amigo, um bom amigo, disse-me que havia assistido um filme e queria me sugerir que o visse também.

Perguntei o nome do filme, e para minha surpresa ele falava do filme que mais amo, o meu filme: "O Fabuloso Destino de Amelie Poulain"!

Surpresa?

Disse a ele que não só o tenho como o ganhei de uma pessoa muito especial.

Então ele disse-me assim:
- Engraçado, achei que o filme tem a sua alma.

Não poderia ouvir, ou ler, palavras mais doces.

Hoje estava eu na minha rotina diária quando precisei resolver questões de adolescentes em crescimento, quando um deles, o meliante, olhou-me e disse:
- Eu só estava colocando cola nas mãos para tirar "pelinha", ele me incomodou e eu passei no cabelo dele sem querer, você já tirou "pelinha" de cola da mão?

Não consegui pensar em mais nada, e sorri, e precisei responder afirmativamente.

O filme da Amelie Poulain, não só traduz minha alma como traz à minha mente boas coisas de ser criança, coisas que perdemos quando crescemos. Por isso, ao ver o filme a cena que me ficou guardada no coração é exatamente esta, Amelie criança, enchendo sua pequena mão com cola e puxando a "pelinha", que se forma com a cola seca.

Quer melhor sensação do que a de sentir a "pelinha" saindo da mão, a insegurança da "pelinha" que pode romper se não tivermos precisão ao puxar a pontinha?

Quer melhor sensação do que olhar o céu e ver não só nuvens, ver formas, ver nuvens com formas que as nuvens podem ter, e que a gente pode ver, ou pode criar, ou pode acreditar?

Quer melhor sensação do que comer doce no dedinho, quando o doce tem a forma exata de caber, no dedo, na mão, na boca, no sorriso e no sabor?

Quer melhor sensação do que ver o mundo com cores da cor dos olhos da criança?

Sim, porque criança não vê as cores como nós acreditamos que elas são, criança vê as cores como elas podem ser, além do que elas são e intensas como as novas cores que a vida pode ter.

E você, já tirou "pelinha" hoje?
Está esperando o quê?

quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Adulto olha o mundo e o complica. Criança olha o mundo e o transforma!

Obra:
Meninos Soltando Pipas
Cândido Portinati

Ele olhou para o lado e tudo o que viu foi a rabiola da sua pandorga, aquela mesma que ele levara dois dias para executar. Puxa vida! - Pensou ele no silêncio de suas palavras.- O que farei agora com os restos disso que sobrou aqui?

Ele correu até aquela casa e no vazio dos cômodos procurou novamente, poderiam ter sobrado pelo menos alguns pedaços de madeira. Procurou, procurou e nada!
Enfim, baixou a cabeça e saiu.

Logo que avistou ao longe duas crianças ele teve enfim a grande idéia:
É fácil, se sozinho não tinha mais vontade de fazer uma nova, com alguns bons amigos esta vontade iria surgir.

Pronto, correu até junto de seus amigos e apresentou a eles a boa idéia.
Uma boa idéia é a metade do caminho percorrido.

Dali a poucoas horas, o menino podia sentir o vento soprar sobre aquela belezura de pandorga, a mais bela de todas que já havia visto, seu olho fechava com a intensidade do vento, como se seu corpo fosse uma parte da rabiola e como se pudesse sentir a brisa soprando e o levando para todas as direções.

O mundo naquele dia para o menino não era nada, porque o mais importante do mundo era o vento que soprava e a pandorga que pra todo lado voava.

O menino não sabia, mas a imaginação é parte da criação da vida, e a vida, esta, é pura transformação, todo dia!

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Nada, nada!



Percebi, logo pela manhã cedinho, que abrir os olhos seria um sacrifício, olhei o dia e nada parecia muito azul: nada de céu azul, nada de sol azul, nada de verde do azul, nada de nada de azul.
Sabia de uma coisa, o dia estava ai, não estava azul, e nada de nada adiantaria esperar uma mudança.
Ta aí!
Mudança?
Para que serve esta palavra?

Etimologicamente:

mu.dan.ça sf (mudar+ança Alteração, modificação, variação.) 1 Ação ou efeito de mudar. 2 Ação ou efeito de fazer passar ou transportar alguém ou alguma coisa de um lugar para outro. 3 Os móveis que se mudam. 4 Variação das coisas de um estado para outro. 5 Modificação ou alteração de sentimentos ou atitudes. 6 7 Substituição. 8 Mec O mesmo que câmbio de velocidade. sf pl Ling Transformações que se verificaram numa língua ao longo do tempo e constituem a sua história. M. de estado: passagem de uma substância de um estado físico (sólido, líquido, gasoso) a outro. M. de velocidade: a) o mesmo que câmbio de velocidade; b) alteração da velocidade mediante o câmbio de velocidade.

Tenho cá minhas dúvidas, mas mudança, de mudança mesmo, não há.
Podemos até mudar de casa, mesmo não sendo tartaruga, mas mudar de mudar, de modificar, não. Demorei, como semrpe, demorei, mas aprendi: mudar não muda!
Amanhã vou brincar de mudar, para ver o que dá, se me encontrar já sabe, estou mudada...
...mas...
Será que muda?
O ser que muda?
O ser humano que muda?
O ser humano muda?
Ou a muda que o ser humano?

quarta-feira, 16 de abril de 2008

Para o artista


Obra: Venâncio Domingos

"Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato... Ou toca, ou não toca". Clarice Lispector

Não há nada para entender, a quem entender é o que me importa, e a pessoa certa há de entender.

terça-feira, 15 de abril de 2008

Menina bonita do laço de fita


"- Menina bonita do laço de fita, qual é teu segredo pra ser tão pretinha?

A menina não sabia, mas inventou:
- Ah, deve ser porque eu caí na tinta preta quando era pequenina...
O coelho saiu dali, procurou uma lata de tinta preta e tomou banho nela.
Ficou negro, todo contente. Mas aí veio uma chuva e lavou todo aquele pretume, ele ficou branco outra vez."
Menina bonita do laço de fita, texto de Ana Maria Machado.

segunda-feira, 14 de abril de 2008

Contar histórias, olhar a vida!

Se o prazer pudesse ser traduzido em palavras, elas seriam estas: Contar histórias!
Há quem diga que esta é uma arte milenar, há quem diga que é passado de geração em geração, isso tudo não sei, mas sei do que vivo.
Há em cada um olhar o indizível, há em cada sorriso o inefável e há em cada expressão a mágica.
Hoje pela manhã contava histórias e o que se passou foi assim:

- Ah, eu não quero ouvir histórias.
- Porque não?
- Isso é coisa de criança.
- Faremos assim, você ouve a primeira história se ela acabar e você ainda acreditar que é coisa de criança e não quiser mais participar, você poderá sair sem problemas, o que achas deste combinado?
- Tá, pode ser.
Contei a história: "Chapeuzinho Amarelo", texto de Chico Buarque, ao final o diálogo continua.
- Você deve ser mágica, porque é bom fechar o olho e imaginar que pode ser verdade.

Mais nada para hoje, fica-me a certeza de que mais mágica que a história é a vida, que nos trás surpresas a cada palavra.

domingo, 13 de abril de 2008


Minha Mãe sempre me diz - Ocupe-se com você e com sua vida.

Demorei e aprendi.

Ocupo-me muito mais agora em ver as cores do dia que nasceu, em ver o sorriso dos que me querem bem e principalmente de ver os desejos que deixei guardados enquanto não estava em mim.

sábado, 12 de abril de 2008

INDIVISÍVEIS

O meu primeiro amor e eu sentávamos numa pedra
Que havia num terreno baldio entre as nossas casas.
Falávamos de coisas bobas,
Isto é, que a gente achava bobas
Como qualquer troca de confidências entre crianças de cinco anos.
Crianças...
Parecia que entre um e outro nem havia ainda separação de sexos
A não ser o azul imenso dos olhos dela,
Olhos que eu não encontrava em ninguém mais,
Nem no cachorro e no gato da casa,
Que tinham apenas a mesma fidelidade sem compromisso
E a mesma animal - ou celestial - inocência,
Porque o azul dos olhos dela tornava mais azul o céu:
Não, não importava as coisas bobas que diséssemos.
Éramos um desejo de estar perto, tão perto
Que não havia ali apenas duas encantadas criaturas
Mas um único amor sentado sobre uma tosca pedra,
Enquanto a gente grande passava, caçoava, ria-se, não sabia
Que eles levariam procurando uma coisa assim por toda a sua vida...

Mário Quintana