quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Das Paixões

Obra: El amor y la muerte da série Caprichos
Francisco Goya


Há muito este é um tema corrente no mundo e nas cabeças de cada um de nós. Será por sua magnitude, por sua ilusão, por sua utopia ou pela devastidão que causa. O que se esconde, enfim, por trás de sentimento tão nobre, mas ao mesmo tempo tão imprevisível. Certa vez li, num artigo de jornal, uma reportagem belíssima que descrevia a pesquisa de uma especialista na área de sentimento, a professora Cindy Hazan da Universidade Cornell de Nova Iorque, acredite existe esta especialidade que trata dos sentimentos incorrigíveis do amor, ela traduzia em palavras o que sentimos ao nos depararmos com este sentimento que nos assola há muito e que pouco o compreendemos na sua prática. Dentre os resultados apontados em sua pesquisa estava o efeito da paixão, que segundo a cientista dura de 18 a 30 meses, e que passado este período o que se tem é o amor. Já o amor segundo a cientista não dura mais do que 7 anos e que a partir de então o que se tem é convivência e hábito. Diz ainda a cientista que quando acometidos deste sentimento, de paixão, o casal experimenta reações próximas de uma patologia chamada na medicina de esquizofrenia. Isso assusta? A mim sim, mas segundo esta pesquisa o que nos ocorre no cérebro é a redução da necessidade de julgar o caráter, a personalidade e as emoções negativas do parceiro, em outras palavras, perdemos o senso de percepção espacial e temporal. A pesquisadora identificou algumas substâncias responsáveis pelo amor-paixão: dopamina, feniletilamina e ocitocina. Estes produtos químicos são todos relativamente comuns no corpo humano, mas são encontrados juntos apenas durante as fases iniciais do flerte. Ainda assim, com o tempo, o organismo vai se tornando resistente aos seus efeitos, e toda a loucura da paixão desvanece gradualmente, a fase de atração não dura para sempre. O casal, então, se vê frente a uma dicotomia: ou se separa ou habitua-se a manifestações mais brandas de amor, companheirismo, afeto e tolerância, e permanecem juntos. Posteriormente uma pesquisa britânica afirma que o período em que um casal parece viver em paixão dura dois anos, seis meses e 25 dias depois de se conhecerem. Segundo o estudo, conduzido pelo instituto britânico de pesquisas globais pela internet One Poll, é neste ponto de um relacionamento considerado normal que homens e mulheres começam a encarar o relacionamento como algo completamente garantido. Ambas as pesquisas registraram uma maior atividade no chamado ‘‘sistema de gratificação’’ do cérebro. Quando essas áreas são estimuladas, elas produzem sentimentos de euforia. As relações humanas empregam um mecanismo atrativo que supera a distância social, ao desativar as redes cerebrais usadas por emoções negativas e preconceitos. Esse mecanismo une os indivíduos ao ativar o sistema de gratificação, explicando, assim, o poder de motivação do amor. Nas palavras de quem sofre deste sentimento:

"Ele era louco e muito excitante, tirava meus pés do chão. Esta excitação está bem viva. Nós nos certificamos de que nossas vidas estejam sempre mudando". (Lisa)


Após este período o que fica é a pessoa e suas excentricidades, esquisitices e porque não dizer seus defeitos, sim, acredito que em algum momento percebemos que a pessoa é interessante, mas não completa, afinal, penso que não deva existir um ser humano completo, não somos como carros afinal, aonde podemos buscar originais de série e os acessórios mais completos. O que me intriga que está além de todas estas pesquisas é, o que nos move? O que nos atrai? O que nos motiva? O que vemos e desejamos e quando isso acontece? Estas indagações na devem ter respostas, ou logo alguma pesquisa é anunciada e minhas dúvidas serão sanadas. Considero-me uma observadora nata, e gosto de observar desde crianças a idosos, e quando me deparo com um casal apaixonado novas dúvidas sempre me ocorrem, é belo e ao mesmo tempo misterioso este sentimento. Esta semana acordou em mim uma nova dúvida, após assistir dois filmes que a princípio pouco tem em comum, mas que no meu olhar despertou um mesmo lugar de observação, os filmes são “Wall-E”, longa-metragem de animação da Pixar, dirigido por Andrew Stanton, que dirigiu anteriormente Procurando Nemo, e “Sombras de Goya” do diretor Milos Forman (Amadeus), conta a influência que Goya recebeu dos horrores da guerra e das pessoas com quem conviveu. Em ambos os filmes algum tipo de paixão se desenrola, seja em Wall-E a paixão de um robô por outra robô, cheio de pequenas descobertas e o extasiar de um beijo inesperado, ou ainda em Sombras de Goya, a paixão de uma prisioneira da inquisição por um padre que a usou e deu a ela uma filha que foi tirada dela antes mesmo de ela poder a ver. No primeiro o amor se concretiza e mesmo que não possamos conviver com o seu desenrolar temos em nosso plano de experiência o que se passa a partir de então, no segundo o final não se passa de forma tão positiva, o objeto amado, o padre, é morto mas o amor permanece, pelo menos nos momentos em que convivemos com ele no filme. A amante caminha ao lado do objeto amado desfalecido e sequer percebe que o mesmo nunca mais lhe dirigirá nenhum tipo de palavra ou ação, a amante está doente psicologicamente por isso não tem nenhum tipo de discernimento sobre o que ocorre. Será este o sentimento que nos acomete na paixão? Afinal de alguma forma nosso corpo toma um outro lugar no espaço, o lugar de viver intensamente, perdemos o medo e somos tomados por um desejo intenso de novas experiências e o prazer constante de estar com o parceiro. O que me ocorre neste momento é: o que se procede com as paixões não realizadas? Aonde se escondem estes sentimentos? Não encontrei nenhuma resposta em nenhuma pesquisa em nenhum artigo de jornal e muito menos em mim mesma, mas estou à espera, viver uma paixão é bom, tê-la por toda a vida deve ser melhor ainda, será?

2 comentários:

Unknown disse...

muito bom! Carol!

Unknown disse...

Só tu mesmo Carol... Te vejo tanto nesse texto, sempre questionando, sempre amando, sempre mudando... Muito parecido com uma conversa que tivemos tempo atrás... E quanto a última pergunta, minha resposta é... com certeza, sim.